quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Gastança verde-e-amarela



Brasileiros fazem a farra em compras na Flórida

Texto e fotos: Sônia Araripe*

Originalmente publicado na revista virtual Balaio de Notícias

Fotos: Parada no Magic Kingdom e Entrada do Parque Harry Potter, na Universal


Viajar em julho último para Orlando, na Flórida, pode ser comparado com uma aventura pela “selva” urbana. Voos lotados, adolescentes berrando por todo lado, engarrafamento de gente, shopping lotados e o que é mais marcante: português parece ser a língua mais falada por estas bandas. Competindo até com o inglês nativo.

Claro, alguém poderá sempre argumentar que Flórida não é, exatamente, os Estados Unidos, com toda aquela multidão de turistas de diferentes recantos deste globo. E que com o dólar “barato” para brasileiros não poderia se imaginar outro cenário que não fosse mesmo um “mar” de turistas correndo para abraçar o Mickey Mouse e encher as malas de “gadgets”. A corrida por passaportes e vistos nos Consulados Americanos eram só uma prévia do que estaria por vir.

O que as estatísticas do Banco Central, em Brasília, ainda não registraram é o tamanho – e, principalmente, o custo – desta farra em moeda estrangeira. Enquanto os norte-americanos se assustavam com a possibilidade real do governo Barack Obama precisar decretar o calote oficial da economia, visitantes de um certo país do Terceiro Mundo, quem diriam, fizeram, literalmente, a “festa”. Algo muito parecido com a volúpia do “último baile da Ilha Fiscal” ou com um frenesi, como se não houvesse amanhã, o planeta fosse desaparecer no próximo looping da montanha-russa e precisássemos todos consumir desenfreadamente.

Se os americanos estão consumindo menos, afetados pelo desemprego e crise verdadeira, que certamente terá repercussões globais, inclusive neste país abençoado por Deus, os brasileiros estão dando uma “mãozinha” para a economia do Tio Sam. Também os europeus: como o euro está mais valorizado do que o dólar, famílias francesas, inglesas e alemãs também estão invadindo Orlando. Se uma simples – mas essencial - água mineral custa US$ 3 para nós, súditos brasileiros do Rei Mickey, para um francês custa a metade. Barato, muito barato.

Como os números oficiais ainda não foram divulgados oficialmente, procuramos medir alguns sinais claros desta gastança verde-e-amarela. Um ótimo termômetro desta grande frequência de brasileiros em Orlando em julho pode ser definida pela expressão do vendedor da loja da Apple do Shopping Florida Mall. Num misto de satisfação e cansaço, o jovem já não conseguia mais explicar que o estoque de Ipad estava no fim. Só tinha o modelo preto, nada mais do branco e apenas algumas unidades. Se acabasse, apenas no dia seguinte.

-Tem sido assim. Nunca vi tanto brasileiro junto querendo o mesmo produto – brincou, simpático, o jovem vendedor.

Ipad 2.0 por menos de US$ 500 é apenas um objeto de desejo dos jovens – e também marmanjos – brasileiros. Assim como netbooks na faixa de US$ 300, celulares 4G, uma infinidade de aparelhos eletrônicos e todo tipo de quinquilharia. Completados por lista extensa que inclui maquiagem, tênis, material esportivo, bolsas femininas de grife e roupas de todo tipo.

- Estou comprando muito mesmo. Estou feliz porque estou achando o meu manequim certinho. Aqui está baratíssimo e meu marido liberou – resumia a turista carioca de cerca de 50 anos, bem aparentada, mas alguns quilos acima do peso ideal, da tradicional Tijuca (Zona Norte carioca), agarrada a vários modelos diferentes de roupas e bolsas da marca Calvin Klein.

Não era a única compradora brasileira por estas bandas. Nos Outlets da rede Premium (são dois) uma horda de turistas de diferentes pontos de Norte a Sul do Brasil literalmente atacava as “araras” de roupas e acessórios. Na loja Coach, de bolsas femininas, muitos modelos já tinham se esgotado. Vendedores brasileiros foram contratados às pressas para dar conta do recado. “Provador is here?”, perguntava a turista pernambucana, misturando português e inglês para uma surpresa fiscal de provador na loja Lewi`s. Depois de rir baixinho, ajudei a viabilizar o diálogo das duas, diante do risco da pernambucana acabar provando a calça ali mesmo na frente de todos.

Foram cenas como esta por todo lado. Famílias inteiras comprando adoidado. Adolescentes em grupos de 100 a 200 se atracando com vários modelos de tênis, bichos de pelúcia, eletrônicos e o que mais o cartão dado pelo pai pudesse pagar. Nos corredores da super loja Target – uma espécie de hipermercado misturado com uma mega Lojas Americanas – era fácil descobrir quem era brasileiro. A maioria tinha o carrinho cheio e vários podiam ser encontrados no corredor das malas de viagem, selecionando a mais barata para “agasalhar” as comprinhas que já não cabiam nas malas vindas do Brasil.

O voo de volta foi outro ótimo termômetro. Havia tanta bagagem, tanta bagagem, que os bichos de pelúcia precisavam vir no colo. Agora, durma quem puder com a companhia nada confortável de uma Minie gigante a tiracolo. Que tal?

Claro, os parques da Disney e da Universal não são exatamente os Estados Unidos. Tudo bem. Mas servem como um bom recorte, não há dúvida. Apesar do clima de preocupação da maioria dos locais, foi interessante ver também um “baby-boom” com a nova geração já crescendo com bochechas rosadas ou ainda na barriga, a caminho. Outro dado interessante: a miscigenação em curso de raças e etnias. Brancos (as) e negros (as) vivendo e tendo filhos com orientais, árabes, hispânicos etc. Não é possível concluir nada, mas é animador ver que num país ainda tão ferido pelo racismo e intolerâncias religiosas e raciais, alguns parecem estar deixando de lado falsos temores e aceitando as diferenças.

Entre uma fila e outra, enquanto o sol baixava e a juventude brasileira entrava na montanha-russa, bom mesmo foi conversar com a jovem Terry, do Mississipi, estudante negra e muito simpática que está estagiando no parque Hollywood Studios, da Disney. Com a curiosidade típica dos jovens, arriscou puxar papo. Queria saber de que país éramos. A pausa era perfeita para a conversa “de mineiros”.

- Brasil? Que lindo! Adoraria conhecer!– revelou.

E, mais do que rápida, completou seu raciocínio. Contou que não conhecia quase nada deste país tropical, abençoado por natureza. Mas o pouco que sabia era que era maravilhoso, com praias lindas, muita gente bonita e simpática. E disparou:

- É verdade? Se é, porque todos estão aqui? Meu sonho era ir pro país de vocês – emendou.

Vai responder, vai responder. Dei um sorriso, apertei o passo e corri para a próxima fila. Explicar como?

***

Dicas preciosas para quem vai a Orlando

- A menos que seja um adolescente em excursão, fuja sempre do movimento em julho, dezembro e janeiro. Prefira períodos menos concorridos, como março, abril ou setembro e outubro;

- Programe vistos, passagens e reservas com calma para não correr o risco de nem viajar diante de tanta procura;

- Reserve ao menos sete dias, mas se puder, fique um pouco mais e curta tudo com calma. O ideal, na nossa opinião, são de 12 a 15 dias;

- Pesquise sempre os preços pelos sites e jornais. Há uma infinidade de roteiros, serviços a diferentes custos. Escolha o que melhor se adapta ao seu bolso;

- Há alguns sites especializados em dicas de Orlando. O melhor, na nossa opinião, claro, é o Viajando para Orlando, principalmente a coluna Mais Magia, de Vivian e Cris;

- O clima é de deserto. Faz muuuuuito calor no verão e frio minuano, como dizem os gaúchos, com vento, no inverno. É sempre recomendado se informar sobre o tempo antes de viajar. Na dúvida, compre logo um ventilador com água no verão (todos os parques vendem) ou um bom casaco com capuz se for na época mais fria;

- Guarda-chuva e capa são indispensáveis. Costuma chover bastante e a capa é ótima também para os brinquedos que molham;

- Se possível, alugue um carro ao menos alguns dias. Facilitam a locomoção, principalmente para restaurantes e compras. Peça um GPS que “fale” português ;

- Os parques aquáticos são bárbaros, mas só abrem em alguns meses. Pesquise antes. O nosso favorito é o Aquática, da Universal;

- Guarde sempre dinheiro e documentos no hotel. Uma boa dica é o cartão pré-pago que vários bancos estão vendendo no Brasil. Evitam o cartão de crédito estourar e também não paga IOF. Detalhe: algumas lojas não aceitam. Leve também um cartão de crédito tradicional e dinheiro vivo para miudezas;

- No capítulo compras, prefira os Outlets da Premium (são dois), mas se prepare para comprar o que tiver e não o que você sonhou. No Florida Mall há marcas com preços maiores, mas, mesmo assim, também em conta. Outro shopping é o Mall at Milennia, quase sem brasileiros, mas bem mais caro;

- Lembrancinhas podem ser encontradas bem em conta no Wal-mart e no Super Target;

- E, finalmente, compre APENAS o que realmente precisa. Faça uma lista bem minuciosa antes de sair do Brasil. O planeta e seu bolso, penhorados, agradecem.

*Jornalista, é Editora de Plurale em revista e Plurale em site, com foco em Sustentabilidade. Mãe de três filhos adolescente, esta foi a terceira vez que viaja de férias a Orlando. Esta viagem relatada ocorreu no fim de julho de 2011. E-mail: soniaararipe@plurale.com.br

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