terça-feira, 6 de abril de 2010
Chuva e poesia
A querida Carla Vergara nos mandou este lamento em forma de poesia. Ela também tem seu blog, o Místicas Femininas.
REFIRO-ME À CHUVA
Hoje o Rio fechou, sucumbiu, desmaiou nas águas de abril. Ainda hoje teremos mais chuvas, choros, atrasos que retardam a vida e o nosso pão de cada dia - escondem a alegria de ser carioca revelando lixos, becos, morros e tristes enredos.
O Rio está sem palavras, sem luz, sem calçadas. O povo sem casa, colchão, quentura, candura - sem dignidade.
A Natureza?
Sim, a natureza humana – que constrói, assola, aterra e não vê mais a cor da água, do verde, da terra – está cega, surda e muda de si.
Precisa o absurdo para ver?
Precisa gritar para ouvir?
A minha palavra é sincera: mexeu com o Rio, mexeu comigo
O desabrigo me incomoda
O caos me toma as lágrimas, me soma as forças – fazer o quê?
Criança em sinal é problema meu
Nariz escorrendo é problema meu
Moleque com cola é problema meu
Essa água toda jorrando podre o descaso humano me pergunta – fazer o quê?
Dói em raiva gente inteligente que vê o seu trabalho sem implicação
Dói triste, agudo, pequeno.
Não é sereno ver o barco afundar, a banca desbancar, as cores fechadas varrendo as almas para longe das próprias estradas.
Em matéria de poesia,
Que não serve para absolutamente nada (salve esta parte de Gullar!),
Dever cumprido.
E agora: fazer o quê?
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