segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Paul, Hair, Aquário, maluco beleza e bicho-grilo
Sônia Araripe
Perdemos os dois shows ao vivo do Paul McCartney. Nós e meio Brasil, vamos combinar. Os ingressos se esgotaram num suspiro e a vontade de conferir de perto o único sobrevivente que ainda se apresenta do grupo dos besouros ficou prá depois.
Teve um arremedo de ao vivo na Globo, na verdade, edição pura e confusa. Mas deu prá sentir que foi bacana, foi legal, certinho, mas não foi esta coca-cola toda.
Felizmente tivemos nosso prêmio de consolação, digamos assim. Fomos assistir Hair no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon. Já contei antes: o Rio tem mesmo sorte por contar com uma safra tão firme e consistente de musicais.
São vários nos últimos tempos. Sem falar os balés e espetáculos de música clássica.
Mas vamos nos concentrar no Hair. Ao contrário das sessões que enchem de senhorinhas eufóricas na melho idade, desta vez o que se viu foram os mais jovens e a turma que está chegando ao "enta": entre os quarenta e cinquentas. Nesta faixa. Claro, tinham também os mais experientes e os mais jovens - nós estávamos com dois legítimos representantes do público adolescente - mas é um espetáculo prá quem ouviu falar dos hippies, acompanhou um irmão mais velho, um tio, um pai mais cuca fresca.
Jesus! Tem expressão que denuncie mais a idade do que "cuca fresca"? E "patota"? Ou podemos também citar "broto", "bicho-grilo" e "peixinho de aquário". É, num tem jeito, Hair corre nesta faixa.
E têm também os malucos beleza. O elenco do musical só ouviu falar de tudo isso, claro. Todos jovens, bem jovens, na faixa ainda dos vinte, por aí. Lindos, lindas. Fortes, magrinhos, cabeludos de verdade, cabeludos de mentirinha.
Dançam muito, alguns cantam muito bem, outros ainda precisam ter mais aulas para reforçar o timbre. É o caso da mocinha principal, ativista, de cachos angelicais. Bem itencionada, fofa, mas não acerta o tom. Em compensação, os outros personagens principais dão um show. Mesmo. Do início ao fim.
O jovem que interpreta Berg, o líder do grupo ou família, ou patota, vai, porque não, é um verdadeiro monumento. Colosso, Deus. Quem senta na primeira fila pode ver bem de perto. Também o outro líder, chamado Claude. Dá vontade de adotar e levar prá casa.
O figurino - trocado várias vezes - é deslumbrante e me fez lembrar a minha irmã e suas amigas saindo prás baladas da época. Eram como mesmo? Hi fi? Não, isso era na minha época. Eram... sei lá. Num vem ao caso. A iluminação é determinante e a banda ao vivo é de fazer o coração bater mais forte.
Algumas traduções das músicas soam um tanto estranhas aos ouvidos tão acostumados com as originais. Mas tudo bem. Tudo pela arte. Estão todas lá: Aquário, Let`s the sunshine in ... e por aí seguem. Lindas.
As senhorinhas, principalmente as que não tem cuca-fresca, ficam ruborizadas sim com o nu frontal no término do primeiro ato. Mas Maria Lúcia, suas amigas e toda sorte de jovens em qualquer idade entendem que é parte do show, é parte do show. O que é bonito é prá se apreciar, num é isso? O teatro fica mudo, mas quem cala consente. Todos aplaudem. E o segundo ato volta com mais ritmo, mais intenso. Overdose total.
Vale mesmo assistir. Fica em cartaz ainda por alguns fins de semana. Não é recomendado para quem não tiver um quê de maluco beleza. Neste caso, o melhor é esperar a reedição de Noviça Rebelde.
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